Episodit
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Branca Carvalho até se riu quando viu a propaganda que o irmão mais velho tinha para distribuir no 1.º de Maio de 1974, no Porto. “Abaixo a vida cara! Fim às criminosas guerras coloniais! Por aumentos de salários e melhores condições de vida! Abaixo o Governo fascista! Façamos do 1.º de Maio uma grande jornada de luta!”
Passara quase um ano a trabalhar para o Partido Comunista Português (PCP) na clandestinidade. Numa divisão da casa que partilhava com um camarada, em Valbom, Gondomar, tinham montado uma tipografia.
Esta é a história de Branca Carvalho.
Clandestinos é uma série coordenada por Inês Rocha que termina neste Primeiro de Maio. Cada episódio traz um jornalista e uma história diferente.
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António Vilarigues não entrou na clandestinidade. Nasceu na clandestinidade, fruto das circunstâncias dos pais, Alda Nogueira e Sérgio Vilarigues, dois históricos do Partido Comunista Português, que então viviam sob outras identidades. Foi assim que passou os primeiros quatro anos de vida, até que um incidente com jornais Avante clandestinos, com os quais queria brincar, obrigou os pais a decidir que seria melhor que António, hoje com 70 anos, fosse viver com a avó materna.
Só anos depois saberia o seu verdadeiro apelido: Vilarigues, nome que lhe passou o pai, o homem que mais tempo passou na clandestinidade. Foram 32 anos, depois de passagens pelas piores prisões do regime, incluindo o Tarrafal.
António cresceu, tornou-se militante do partido, juntou-se com a então companheira, Lígia Calapez Gomes, com quem foi forçado a passar novamente à clandestinidade, em 1971, depois de ambos terem escapado a uma vaga de prisões da PIDE. A revolução apanha o casal numa casa nos Carvalhos, em Gaia, onde imprimiam comunicados a apelar à greve no 1º de Maio. “Só nos apercebemos do 25 de Abril às 13h30 da tarde, porque as rádios no Norte não estavam a transmitir”, diz. A Renascença passava então uma música anti-imperialista do cantor argentino Atahualpa Yupanqui. Foi essa a sua senha.
Clandestinos é uma série coordenada por Inês Rocha para acompanhar neste mês de Abril e até ao Primeiro de Maio. Cada episódio traz um jornalista e uma história diferente.
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Puuttuva jakso?
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Ele vinha de uma família numerosa, ela era filha única. Ela foi clandestina praticamente desde o dia que nasceu, ele estava a entrar nesse mundo dos nomes falsos e das profissões fictícias. Complementavam-se. Juntaram-se numa casa em Lisboa como um casal só para as aparências – cada um deles até comprou uma aliança. Três meses depois, já não fazia sentido ser apenas assim. Para além de camaradas, passaram também a ser companheiros. Até hoje.
Esta é a história de Armando Morais e Mariana Rafael, que se conheceram e apaixonaram na clandestinidade, quando eram Sérgio e Clara. “Tive uma sorte incrível, porque ele não podia ser um estafermo. Também houve.”
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Estudava Arquitectura na Faculdade de Belas Artes do Porto quando decidiu mudar-se para a aldeia de Brito, em Guimarães, para ser tecedeira numa fábrica. Ficaria na clandestinidade quanto tempo fosse preciso, para “consciencializar” os operários e aprender como viviam. Manuela Juncal, na altura com 22 anos, hoje com 74, manteve o nome próprio e mudou de apelido, para Manuela Gonçalves, e viveu cerca de dois anos na clandestinidade com Tito Amorim, na altura seu namorado, mais tarde marido, ambos da OCMLP: Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa.
Viveu o 25 de Abril de 1974 com pouca informação, entre uma mão que bateu à sua porta de madrugada e uma viagem de autocarro passada a ouvir rádio, em surdina. Percebeu que os anos de ditadura tinham chegado ao fim e o 1.º de Maio que se seguiu, ainda em Guimarães, provou-lhe isso mesmo: uma praça cheia de gente a gritar “Liberdade”.
Siga o podcast Clandestinos e receba cada episódio à quarta-feira à tarde no Spotify, na Apple Podcasts, ou noutras aplicações para podcasts.
Conheça os podcasts do PÚBLICO em publico.pt/podcasts. Tem uma ideia ou sugestão? Envie um email para [email protected].
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Os nomes falsos, o medo que a campainha tocasse, o amor que sobrevive à distância e como passou a fronteira com uma bomba escondida na bagageira do carro. Isabel do Carmo. Uma vida cheia de histórias. Se hoje, com 83 anos, é conhecida pelo seu trabalho como médica endocrinologista, olhando para trás, a sua história cruza-se com a Revolução dos Cravos.
Militante desde que tem memória, fundou as Brigadas Revolucionárias, preparou ataques a bases militares e assaltos a bancos do Estado Novo. Mais tarde ou mais cedo, os caminhos começaram-se a estreitar: Para não ser presa, em 1972 entra na clandestinidade. Em conversa com o Público, recorda os dias em que era obrigada a estar longe da filha, a militância que começa com uma guerra contra o padre, e como volta a ouvir o seu nome, o seu verdadeiro nome, no dia 25 de Abril de 1974.
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Isabel do Carmo foi Iva e Elisa. Manuela Clara manteve parte do nome mas transformou-se em Maria Manuela e "perdeu" dois anos. Mariana e Armando montaram uma casa para manter as aparências e acabaram por construir uma família que dura até hoje. António Vilarigues nasceu clandestino.
São pormenores das muitas vidas daqueles que lutavam contra o Estado Novo na clandestinidade. Foi há 50 anos que o 25 de Abril lhes devolveu a liberdade e também o próprio nome, e em muitos casos a família.
No podcast Clandestinos vamos ouvir as histórias de pessoas que mergulharam na clandestinidade. Da coragem e da luta no dia-a-dia, mas também do medo e da saudade.Uma série coordenada por Inês Rocha para acompanhar neste mês de Abril. Cada episódio traz um jornalista e uma história diferente. O primeiro sai no dia 3 de Abril.
Na semana seguinte o PÚBLICO lança também o podcast Canções de Abril, sobre seis músicas que ajudaram a fazer a Revolução, com entrevistas de Nuno Pacheco.
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