Episodit
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Filomena tem 58 anos, é dona de uma empresa de turismo em Lisboa, e escreveu este diário para poder comunicar com a criança refugiada que só recentemente se apercebeu de ter sido. Quando Portugal concedeu a independência a Angola, o pai teve de fugir pelo deserto até à África do Sul. Quando finalmente chegou ao Brasil começou a tentar encontrar a família por todos os meios, e eis que os localizou, numa pequena aldeia portuguesa, onde a sua família também vivia. Todos se esforçaram para os receber bem, mas Filomena vivia triste com falta do pai, o seu herói. Um dia, o telefone tocou. Hoje, o que prevalece entre as memórias menos boas é a “generosidade do povo português”, que ficou para sempre marcada no coração desta retornada a um país que não a viu partir.
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Willy Silva tinha 21 ou 22 anos quando saiu do Brasil, não se lembra bem. Como toda a gente, queria conhecer o mundo, mas nunca tinha pensado nisso a sério. Gostava da sua vida no interior do estado de São Paulo, a sua mãe e o seu irmão estavam lá, os amigos, tudo. Mas um dia falaram-lhe de uma bolsa para estudar fora e ao ver no Facebook umas fotografias da capital da Hungria, Budapeste, pensou que gostava muito de conhecer aquele lugar. Foi o início de meia década de viagens por toda a Europa, que terminou da pior forma possível: Willy chegou a frequentar a sopa dos pobres, no Porto, viveu em tendas, foi explorado e nem sempre lhe pagaram pelos trabalhos que fez. E depois a vida voltou a mudar. Agora tem 35 e brinca com os luxos que lhe dão no emprego: férias, salário ao dia certo, até baixa por doença.
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Puuttuva jakso?
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Francesa, bérbere, só “black”, às vezes judia, outras vezes magrebina, outras árabe. O diário de Salima Ouardiri é uma homenagem ao ato de partir, e é também uma reflexão sobre o que se perde quando se viaja tanto. Na altura em que falámos com Salima ela tinha 31 anos, estava de regresso a França, onde nasceu, mas o que nos contou, e o que escreve no diário, não são histórias de aventura, antes várias lições de vida que lhe ficaram de cada lugar que visitou. E a principal é esta: a aceitação do nosso estatuto de imigrante ou de pessoa estrangeira é impossível de exigir ou implorar. Ou nos aceitam, ou nos catalogam. E é preciso aprender a viver com isso, e a fazer disso arte. Quando viveu em Portugal trabalhou em telemarketing e como terapeuta de SPA. Agora é educadora infantil e está a estudar medicina chinesa.
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Usman tinha 16 anos quando saiu do Paquistão à procura de uma vida melhor na Europa. Não disse aos pais que ia embora, porque eles sempre lhe tinham pedido que não fizesse essa viagem. Muitos tinham morrido nas montanhas do Irão, no mar da Turquia para a Grécia, a última parte da viagem. Entre carros prometidos que nunca apareceram, dias sem comer e sem beber, violência e prisões arbitrárias, fez mais de 9400 quilómetros até chegar a Portugal.
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Kiran, um nome fictício. Apesar de viver em Portugal há quase uma década, esta nepalesa, mãe de dois filhos e dona do seu próprio salão de beleza, ainda teme que a comunidade a julgue por contar a sua história e se queixar de alguns costumes. A vida de Kiran mudou completamente aos 15 anos, quando a irmã desapareceu e ela teve de ocupar o seu lugar num casamento que nunca desejou.
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Sabemos os números. Sabemos quantas crianças filhas de mãe estrangeira nascem, sabemos as contribuições dos imigrantes para a segurança social, sabemos que em certos concelhos já são metade do total de população, mas raramente conhecemos com detalhe o caminho, percorrido fisicamente ou dentro do pensamento, que fizeram até Portugal.
E que empregos começaram por ter quando chegaram? Recebem ao dia ou ao dia que calha? E como foi sair de uma grande, livre, tropical, cidade angolana para uma aldeia portuguesa gelada e isolada? Como é alugar um quarto enquanto mulher sozinha e racializada? Como é ficar num país estrangeiro sem o marido que sempre tinha tratado de tudo?
O novo podcast narrativo do Expresso, “Diários Migrantes”, dá vida a cinco diários, escritos por cinco pessoas que o destino trouxe até Portugal: Kiran, Usman, Salima, Willy e Filomena.
O primeiro episódio estreia a 4 de dezembro e o quinto, e último episódio desta série, é publicado a 18 de dezembro, Dia Internacional dos Migrantes.
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