Episodit
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Um cĂrculo polifĂłnico para uma conversa antiga, cujo fim nĂŁo se vĂȘ. Volta nĂŁo volta, e a histĂłria dĂĄ voltas, a ârenascença negraâ Ă© anunciada. Ă o Harlem Renaissance, a apoteose de Josephine Baker, o charleston invade os clubes de Lisboa, e ao mesmo tempo os âherĂłis do marâ fazem as campanhas de ocupação em Ăfrica.
Corre o ano de 2024, a Lisboa Crioula, o prefixo Afro metido Ă força em tudo e em todo o lado, e a ClaĂșdia SimĂ”es Ă© injusta e desavergonhadamente condenada.
Ruptura com o racismo? Black face de si mesmo ou uma caricatura crĂtica da caricatura? Ou entĂŁo: a fonte criativa da negritude brota abundante e uma legiĂŁo de tokens, negrĂłfilos e gatekeepers da arte e da academia, ĂĄvidos de a extrair, ĂĄvidos de dela se apropriarem, salivam e montam armadilhas reluzentes.
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A polyphonic circle for an old conversation, whose end is not at sight. Once in a while, and history often changes, the âBlack renaissanceâ is announced. It is the Harlem Renaissance, the apotheosis of Josephine Baker, Charleston invades Lisbon clubs, and at the same time the âheroes of the seaâ carry out occupation campaigns in Africa.
The year is 2024, Crioula Lisbon, the «Afro» prefix forcibly inserted into everything and everywhere, and Clåudia SimÔes is unfairly and shamelessly condemned.
Breaking with racism? Black face of oneself or a critical caricature of the caricature? Or: the creative source of Blackness springs abundantly and a legion of tokens, Negrophiles and gatekeepers of art and of academia, eager to extract it, eager to appropriate it, salivate and set up shiny traps.
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NĂŁo sabemos se as mulheres do KĂ©-Aflikana (1929) â Georgina Ribas, Maria Nazareth Ascenso e a Maria dâAlva Teixeira â, para alĂ©m dos saraus empertigados de mĂșsica clĂĄssica, gostavam de dançar o charleston ou os ritmos negros do que viria a ser o fado. Zelosa da ârespeitabilidadeâ, a black excellence querĂȘ-las-ia tĂŁo parecidas quanto possĂvel com as mulheres brancas de classe mĂ©dia: submissas, cuidadoras e anfitriĂŁs. Quando muito benemĂ©ritas, salvadoras e intĂ©rpretes do seu povo. Sem confusĂ”es, estas negras nĂŁo sĂŁo serviçais, nem âindĂgenasâ, elas sĂŁo a prova de que âsomos capazesâ.
Really? Tipo, âon friday I go blackâ?
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We donât know if in addition to the starchy soirĂ©es of classical music KĂ©-Aflikana women (1929) â Georgina Ribas, Maria Nazareth Ascenso and Maria dâAlva Teixeira â liked to dance the Charleston or Black rhythms of what would come to the be the fado. Zealous of ârespectabilityâ, Black excellence would want them as similar as possible to the middle-class white women: submissive, caregivers and hostesses. At most, benefactors, saviours and interpreters of their people. Without confusion, these blacks are neither servants nor âindigenousâ, they are proof that âwe are capableâ.
Really? Like, âon friday I go blackâ?
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Puuttuva jakso?
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Não foi para aquilo que veio de tão longe: aquela fila interminåvel de gente e aquela terra estavam longe de ser o pinåculo do progresso e da sofisticação. No Porto como no IndieLisboa 2023, a lente branca, dos olhos dos brancos e da cùmera dos brancos, zoomam nos seios desnudos dela e apelidam-na de Rosinha.
Entre balantas, a pessoa convidada jamais seria sujeita a tal curiosidade impertinente, doentia e bĂĄrbara. Jamais seria exposta, jamais seria tocada, e o seu nome jamais seria esquecido. Seria uma espĂ©cie de milagre se aquele povo tivesse uma âinfluĂȘncia civilizadoraâ sobre qualquer outro â diria quem nĂłs sabemos que o disse.
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That was not the reason why she had come from so faraway: that endless queue of people and that land were far from being the pinnacle of progress and sophistication. In Porto, as in IndieLisboa 2023, the white lens, the eyes of the Whites, and the camera of the Whites, make zoom on her denuded breastsand call her Rosinha.
Among the Balantas, anyone who had been invited would never be subjected to such impertinent, sickening and barbaric curiosity. She would never be exposed, touched, and her name would never be forgotten. It would be a kind of miracle if that people had a âcivilizing influenceâ on any other â itwould say the person we know that said it.
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Apelido âXâ, porque nĂŁo sobra rastro da linhagem. Apelido âXâ para rasurar o prefixo âpretaâ, que vem sempre primeiro que o nome prĂłprio. Chegamos a ela, na verdade a elas, Ă s centenĂĄrias Carolina e Maria Teodora Doutora, atravĂ©s de jornais que davam conta do seu falecimento, 1943 e 1920 respetivamente. Ambas, seriam as âĂșltimasâ escravizadas em Lisboa?
Quem Ă© ela que pousa de pĂ©, descalça, em plena Av. da Liberdade para o fotĂłgrafo Charles Chusseau-Flavies, com o peito cheio de rosĂĄrios, como quem usa uma extensa fiada de amuletos? Quem sĂŁo elas, e tantas outras, que como elas, foram descartadas pelas âsenhorasâ e pelos âsenhoresâ, depois de velhas, por falta de serventia, e largadas ao abandono nas ruas de Lisboa? âXâ de incĂłgnita. âXâ de encruzilhada. âXâ de marco que nĂŁo Ă© possĂvel esquecer, apesar do silĂȘncio. âXâ de incisĂŁo, por onde se precipita o romper das coisas.
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Surname âXâ, because there is no trace of the lineage. Surname âXâ to erase the prefix âBlackâ which always comes first than the first name. We got to her, in fact to them, to the centennial Carolina and Maria Teodora Doutora, through newspapers that gave account of their passing, in 1943 and 1920 respectively. Were they, both of them, the âlastâ enslaved people in Lisbon?
Who is she who poses, standing barefoot in Avenida da Liberdade, for photographer Charles Chusseau-Flaviens, with her chest filled with rosaries, as if she wears a lengthy row of amulets? Who are they, and so many others like them, who have been discarded by the âladiesâ and âgentlemen,â for being aged, for not being useful anymore, and abandoned on the streets of Lisbon? âXâ of unknown. âXâ of crossroads. âXâ of a milestone that is not possible to forget, despite the silence. âXâ of incision, where the rupture of things is precipitated.
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Ela chegou-nos coberta de insultos pela porta enviesada que Ă© o livro âA Preta Fernanda: RecordaçÔes dâuma colonialâ (1912), que nos diz mais sobre a sociedade branca lisboeta do final do sĂ©c. XIX do que sobre quem foi Andresa do Nascimento de Pina, ou seria Andresa de Pina do Nascimento?, aka Fernanda do Vale. HĂĄ quem diga que Ă© uma autobiografia, mas nĂŁo, nĂŁo Ă©. Ă, sim, uma sĂĄtira racista e machista sobre uma mulher que escapava desmesuradamente ao formatado. Certamente que Andresa, ou Fernanda, terĂĄ tentado desaprovar publicamente aquele retrato monstruoso, e certamente terĂĄ sido amordaçada. E, outra vez, mais uma vez, a pergunta spivakiana de Carla Fernandes: âPode a subalternizada recordarâ?
A resposta:
Pode.
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She came to us covered with insults by the biased door that is the book A Preta Fernanda: RecordaçÔes dâuma colonial (1912), which tells us more about the white society of the late 19th century Lisbon than about who was Andresa do Nascimento de Pina, or would it be Andresa de Pina do Nascimento?, aka Fernanda do Vale. Some say itâs an autobiography, but no, itâs not. It isa racist and macho satire about a woman who strayed disproportionately from the mold. Certainly Andresa, or Fernanda, will have tried to disapprove of that monstrous portrait publicly, and certainly she will have been gagged. And, again, once again, Carla Fernandesâ spivakian question, âCan thesubaltern remember?â
The answer:
âą Yes, she can.