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    No último domingo, dia 15 de setembro, o jornalista, apresentador de TV e candidato à prefeito de São Paulo Luiz Datena deu uma cadeirada violenta em Pablo Marçal, após ser provocado pelo autoproclamado coach, durante um debate na TV Cultura. Se alguém viajasse pro passado levando essa informação, provavelmente ninguém acreditaria, de tão absurda que ela é. Mas o fato é que, mesmo que tenha acontecido num debate entre candidatos a prefeito de São Paulo, a tal da cadeirada se tornou o assunto mais comentado das redes sociais no Brasil inteiro, dando origem a centenas de memes literalmente da noite pro dia. E embora a violência não devesse ter espaço num debate político, a verdade é que a atitude de Datena parece ter sido aprovada pela maior parte da população, como se a cadeirada fosse a materialização de uma revolta generalizada do público contra Marçal, que não apenas tem se mostrado um candidato de atitudes abjetas e repreensíveis mas um perigoso novo representante da extrema direita.


    Pra entender a repercussão desse evento nas redes sociais e nas eleições municipais de São Paulo, tal como o que é essa extrema-direita brasileira pós-bolsonaro e o que Pablo Marçal representa dentro dessa conjuntura política, eu converso com o jornalista Cleber Lourenço. O Cleber cobre política, com análises e textos publicados no Congresso em Foco, Intercept Brasil, Agência Publica e no site O Cafezinho.


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    Na última sexta-feira o X, antigo Twitter, saiu do ar no Brasil por decisão de Alexandre de Morais após o Elon Musk fechar o escritório da plataforma no país sem indicar um representante legal e descumprir ordens judiciais. O episódio dessa semana de Código do Caos não aborda diretamente esse tema, pois ele foi gravado na verdade um dia antes da bomba explodir, mas trata muito das razões para que o X tenha se aliado à extrema direita e instrumentalizado ataques às instituições democráticas, às esquerda e às minorias.


    Hoje eu converso com o Christian Gonzatti, doutor em Comunicação, professor e coordenador do curso de Comunicação Digital da Unisinos. O Chris mantém nas redes o perfil Diversidade Nerd, no qual aborda política, sexualidade e gênero através da cultura pop. Suas publicações, quando não são restringidas e censuradas pelas plataformas, ganham um engajamento alto o suficiente para furar bolhas e chegar naqueles que se sentem incomodados com o seu discurso progressista. E assim, para continuar sua produção de conteúdo, o Chris acaba tendo que encontrar formas de se proteger e de driblar os próprios algoritmos, que jogam contra ele. E nessa tentativa de nadar contra a corrente do engajamento e das diretrizes das plataformas, fica evidente como os ambientes digitais são bem menos democráticos e inclusivos do que propagam.


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    Se você tem filhos ou convive com crianças e adolescentes, talvez você já tenha percebido que a relação deles com redes sociais é bem diferente da nossa. Ao contrário dos millennials e uma parte da geração Z, que pegaram o começo das redes sociais e o desenvolvimento das mídias digitais, os mais jovens foram jogados à força na lógica inescapável dos algoritmos das plataformas digitais. Tanto é que, como eu tenho abordado aqui no Código Caos, há inúmeras evidências de como as mídias digitais podem ser mais prejudiciais à crianças e adolescentes do que a adultos.


    E uma postagem recente no Twitter ajudou a gente a entender um pouco melhor como jovens têm olhado para o Instagram atualmente. O autor do post é o Victor Hugo da Silva, professor de história e sociologia da rede pública de ensino do estado de São Paulo. O Victor fez uma enquete com seus alunos de 13 a 17 anos para entender porque eles não postavam fotos no feed e o que pensavam os jovens sobre aqueles que assumem suas identidades, postam fotos abertas e se expõem nas redes. As respostas que o Victor obteve acabaram revelando muito mais do que ele esperava, como uma relação de consumo problemática das mídias digitais e uma falta de sintonia e pertencimento com o meio. Tanto é que a postagem viralizou, alcançando mais de 7 milhões de visualizações só no Twitter. 


    Eu sou Henrique Sampaio e neste episódio do Código do Caos eu convido o Victor Hugo, autor do post que viralizou, a refletir sobre a relação entre as novas gerações, a autoimagem e as redes sociais.


    Postagem do Victor no Twitter


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    Conteúdos eróticos ou pornográficos sempre estiveram entre os mais procurados e acessados na internet, desde antes mesmo da abertura comercial da rede, nos anos 90. Mas nos últimos 10 anos, uma novo componente tem mudado a forma como esse tipo de conteúdo é produzido e consumido: o Onlyfans. Tal como tem acontecido com outros aspectos das nossas vidas, o sexo e o prazer vem sendo plataformizado, e hoje, o Onlyfans é a maior plataforma de conteúdo adulto por assinatura, com mais de 3 milhões de criadores e 220 milhões de consumidores registrados em maio de 2023. 


    Segundo uma pesquisa acadêmica, 69% dos usuários do Onlyfans são brancos, 89% são casados, 63% são homens e 59% são heterossexuais, o que nos dá uma ideia de quem é o usuário médio da plataforma.


    Com essa grande produção de conteúdo erótico ou pornográfico publicado por pessoas comuns no Onlyfans, o comportamento dos consumidores tem mudado e feito até gente a pagar por pornografia pela primeira vez na vida, algo que sites populares como Xvideos nunca foram capazes. O Twitter, a única plataforma grande que aceita conteúdo adulto, se tornou um espaço essencial para a divulgação desses criadores, recebendo uma avalanche de pornografia ou conteúdo erótico nos últimos anos e para algumas pessoas, até substituindo sites pornôs como o Xvideos.


    Mas abrir um Onlyfans, como a gente costuma brincar, é mesmo sinônimo de dinheiro fácil? O que trabalhadores e trabalhadoras sexuais precisam lidar ao entrar nesse ecossistema para manter sua renda mensal? Para responder essas e outras perguntas eu conversei com Barbara Mendes Lima, mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, onde pesquisou a produção de imagens explícitas em plataformas digitais


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    Nas últimas semanas tem rolado no Senado debates sobre o Projeto de Lei 2338, que regulamenta o uso da Inteligência Artificial no Brasil. De autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD, o PL tem sido um verdadeiro cabo de guerra entre aqueles que defendem o uso ético da tecnologia perante a sociedade civil, incluindo trabalhadores, e os que defendem a inovação da tecnologia a qualquer custo, incluindo as plataformas digitais, como Google e Meta, que vem fazendo uma grande pressão para atrasar a votação e modificar as partes do texto que não as beneficiam.


    A proposta, criada antes mesmo da popularização das IAs generativas, como o ChatGPT, estabelece diretrizes para a criação e uso responsável de sistemas de IA no Brasil, independentemente da localização da sede da empresa. Além disso, também inclui uma proibição de tecnologias de alto risco, que exponham crianças e adolescentes ou promovam o uso de IA em armas autônomas.


    O texto prevê a criação do SIA, Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial, um orgão que será responsável por unificar autoridades e reguladores para implementar e fiscalizar o cumprimento da lei. Por trás desse órgão, estará a ANPD, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados, que recentemente impediu a Meta de utilizar dados de brasileiros que postam em suas redes sociais, como Instagram e Facebook, para treinar sua inteligência artificial.


    O PL, que vem sendo adiado por pressão das plataformas, está em estágio avançado de tramitação e pode ser aprovado mais cedo ou mais tarde. 


    Para explicar a importância desse projeto de lei e trazer um pouco dos bastidores de sua tramitação, eu converso neste episódio com Rafael Zanatta. O Rafael é diretor da Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, mestre pela Faculdade de Direito da USP e doutor pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP, com formação no Curso de Políticas e Direito da Privacidade da Universidade de Amsterdam.


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    Descrito por estudiosos como uma campanha de assédio online e uma reação da extrema direita contra o feminismo, a diversidade e o progressismo na cultura de videogames, o Gamergate surgiu inicialmente como um ataque coletivo à desenvolvedora de jogos Zoe Queen, e rapidamente se espalhou por toda a indústria de games, atingindo mulheres e minorias, incluindo desenvolvedoras, pesquisadoras e jornalistas. 


    O movimento descentralizado clamava por um jornalismo de games ético e neutro como forma de proteger a identidade e cultura gamer do chamado politicamente correto, hoje também descrito como cultura woke. Naquele momento, o jornalismo e a indústria de games vinham acompanhando as transformações da própria sociedade e buscando pensar em inclusão e representatividade -- isso, em uma indústria e cultura que então eram reconhecidas como predominantemente masculina, pra não dizer machista e tóxica a mulheres e minorias. 


    A campanha de ódio, organizada de forma orgânica em sites como o 4chan e Reddit, em uma época em que redes sociais ainda eram bem diferente das de hoje, desencadeou fortes reações, furando a bolha dos videogames e atingindo a grande mídia e a política. Tanto é que, a partir daí, a extrema direita, notando as táticas de assédio e intimidação online dos gamers conservadores, passaram a cooptar esse grupo e replicar suas estratégias. A atuação de Steve Bannon nesse movimento, que depois se tornaria estrategista-chefe de Donald Trump e conselheiro de Jair Bolsonaro, acabou consolidando esse como o modus operandi da extrema direita.


    Mas passada essa década, o que mudou? Qual foi o legado do Gamergate para a indústria de games e para o mundo, além desse evidente impacto na política e na cultura digital? E quão mais inclusiva e diversa se tornou a indústria de videogames desde que o Gamergate tentou conter o avanço progressista neste meio? Para responder essas e outras perguntas eu converso com a pesquisadora Beatriz Blanco. A Bia é professora coordenadora dos programas de graduação em multimídia e jogos digitais no Senac, em São Paulo e estuda a relação entre ativismo social e mobilizações online na cultura gamer.


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    No primeiro episódio do Código do Caos eu abordei como o mercado de apostas e cassinos online estava se apropriando de um projeto de lei para conseguir se passar por videogame, como forma de fugir da lei que regulamenta apostas esportivas, driblar impostos e direcionar jogos de azar para crianças e adolescentes. Após um grande embate com a indústria de games brasileira, as empresas de aposta saíram perdendo, a despeito da grande campanha de lobby que fizeram. Isso não significa que essas empresas não tem encontrado outras brechas para empurrar jogos criminosos e plataformas fraudulentas para milhões de pessoas, incluindo crianças e adolescentes. 


    A plataforma Kwai vem se tornando um grande ecossistema de jogos de cassino virtual, viciando usuários com recompensa de valores irrisórios em dinheiro enquanto constantemente incentiva a aposta em jogos de azar e plataformas golpistas. Isso para não falar da sexualização de menores e o baixo nível de conteúdo que circula pela própria plataforma. Para piorar, a empresa por traz da rede está tentando expandir seus negócios no Brasil e integrar o Kwai a sua própria plataformas e bets, o que poderia piorar a situação.


    Quem fez a denúncia foi o jornalista Pedro Nakamura no Núcleo Jornalismo, que fiscaliza big techs e redes sociais. Pedro é jornalista investigativo graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e com publicações no Intercept, Repórter Brasil, RBS e no Estadão.


    Reportagem do Pedro Nakamura:

    Kwai libera cassino e promove bets para menores de 18 anos


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    O uso intensivo de redes sociais e as mídias digitais como um todo tem sido associado à ansiedade, depressão e outros transtornos mentais a algum tempo. Em 2020, o próprio Instagram apresentou internamente estudos que mostravam que 32% das adolescentes que diziam se sentir mal com seus corpos achavam que a plataforma as fazia se sentir pior. Pesquisadores da empresa afirmaram que o Em 2019, o Instagram piorou os problemas de imagem corporal para uma em cada três meninas adolescentes, e que as garotas dessa faixa etária culpam a plataforma pelo aumento da taxa de ansiedade e depressão.


    Mas a gente sabe que não é só o Instagram. Redes sociais modernas em geral, ao contrário do que o nome sugere, tendem a ser antissociais, com seus algoritmos baseados mais em engajamento a qualquer custo do que conexão. Facebook e X, o antigo Twitter, tendem a ser movidos a fofoca, brigas, lacração, denúncias, discursos de ódio, fake news e exposeds criando um sentimento generalizado de que tudo está ruim ou todo mundo é mau. Embora alguns desses conteúdos, como notícias legítimas e verificadas, possam ser importantes, o algoritmo prioriza esses tipos de publicação que apela para nossas emoções mais extremas, com o objetivo de aumentar o nosso engajamento e nosso tempo nas plataformas. E para as empresas por trás dessas redes sociais, isso significa lucro.


    Em outras palavras, permitimos que as grandes empresas de tecnologia explorem nossas emoções para nos viciar em suas plataformas, para que elas extraiam de nós nossos dados, tempo e atenção. E tudo isso às custas da nossa saúde mental.


    Mas como as pesquisas científicas do campo da medicina entendem essa relação entre mídias digitais e saúde mental? Sabendo do poder das big techs em defenderem seus interesses, para quais direções devemos levar essa discussão?


    Neste episódio eu converso com Liliane Bastos, graduada em Medicina pela Universidade Federal da Bahia e médica residente em psiquiatria pela UNIFESP.


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    Desde outubro de 2023 a gente tem acompanhado uma nova etapa do conflito israel-palestino, após um ataque terrorista do Hamas contra cidadãos israelenses. Usando a ofensiva como pretexto para exterminar o povo palestino e invadir a Faixa de Gaza, Israel inaugurou um novo capítulo desse conflito que já dura quase 100 anos: o uso da tecnologia, da inteligência artificial e da lógica das big techs no massacre da população palestina. Vale ressaltar que, embora Israel constantemente argumente que está apenas se defendendo, aproximadamente 70% das mais de 30 mil pessoas mortas pelo país em Gaza são de mulheres e crianças – isso sem contar os mais de 70 mil feridos, de acordo com o ministério da saúde de Gaza.


    Jornalistas independentes de Israel, da revista +972, ouviram denúncias anônimas sobre o funcionamento dessas armas e publicaram reportagens detalhando as avançadas tecnologias de guerra usadas por Israel contra a população acuada e literalmente faminta de Gaza. O que a gente vê hoje, contudo, é resultado de décadas de investimento do país em um complexo militar industrial que produz tecnologia de combate, espionagem e vigilância para a guerra – dentre elas o Pegasus, que chegou a ser cogitado pelo clã Bolsonaro para monitorar o Palácio do Planalto


    Para entender mais que tecnologias são essas e o que elas representam para Israel, para o ocidente e para o mundo pós-Gaza, o episódio desta semana do Código do Caos traz uma conversa com Júlia Tibiriça. A Júlia é professora de relações internacionais na Universidade FMU, doutoranda de relações internacionais, mestra em ciência Política pela USP e pesquisadora na área de tecnopolítica e vigilância, privacidade, internet e redes sociais, autoritarismos e segurança internacional.


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    Desde o começo de abril a gente tem acompanhado os capítulos de uma novela chamada Twitter Files Brasil e que parece longe de terminar. Nos últimos dias, uma reviravolta fez com que as decisões sigilosas do STF, que tratavam da remoção de conteúdo e de contas entre 2021 e 2024, fossem parar nas mãos de um Comitê Judiciário da Câmara dos Deputados dos EUA, que, divulgou os documentos sob o pretexto de que o Brasil estaria vivendo uma onda de censura e que a liberdade de expressão do seu povo estaria ameaça. Interessantemente, o tal comitê é liderado por Jim Jordan, um deputado de extrema direita citado por uma investigação do Congresso dos EUA como um ‘ator significativo’ para a invasão do Capitólio em janeiro de 2021, aliado a Trump e próximo a Musk.


    Mas qual o real poder desse documento e desse grupo para a extrema direita brasileira e norte-americana?


    Hoje eu converso com a advogada Estela Aranha, ex-secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e membro do Órgão Consultivo de Alto Nível sobre Inteligência Artificial da ONU. A Estela se destacou nas últimas semanas por desmascarar, no próprio Twitter, o autor do Twitter Files, o jornalista Michael Shellenberger. Em um fio na rede social de Musk, a Estela mostrou que Shellenberger atribuiu ao STF uma ação do Ministério Público de São Paulo que não tinha nada a ver com os atos antidemocráticos, mas sim com um perfil ligado a uma liderança do PCC.


    Mas mesmo depois de Shellenberger assumir o erro e pedir desculpas, a narrativa já havia sido criada e passamos a ver os desdobramentos dessa história, a qual Estela vem diretamente se envolvendo.


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    Desde o dia 3 de abril a gente tem acompanhando o embate entre o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, mais conhecido pelo apelido carinhoso Xandão com ninguém menos que Elon Musk, o bilionário queridinho por 9 a cada dez bolsonaristas. A novela mostra uma afonta de Musk à justiça brasileira, que trata o Brasil como um “shithole country”, para usar um termo que um dos seus coleguinhas estadunidenses. Mas, mais do que isso, mostra a importância de uma regulação de redes sociais que reforcem a nossa soberania brasileira e seja capaz de conter os desmandos, a soberba e a ganância da big techs.


    No episódio dessa semana do Código do Caos, gravado um dia antes do estouro da treta entre Musk e Xandão, eu converso com a advogada especialista em direito digital e mestra em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais Pietra Vaz. Autora do livro Irregulável Mundo Novo: A regulação de Big Techs na infosfera, baseado em sua dissertação de mestrado, Pietra aborda os desafios e a importância de uma regulação capaz de pôr as poderosas big techs na linha da soberania brasileira, não apenas obrigando-as a cumprir com a nossa legislação mas também a seguir diretrizes que protejam a nossa população e a nossa democracia dos impactos das plataformas digitais. 


    E embora nossa conversa tenha acontecido antes da guerra entre o segundo homem mais rico do mundo e a justiça brasileira, ela não poderia estar mais conectada a tudo que vem acontecendo, o que mostra não apenas como Elon Musk é previsível mas também como a regulação das big techs, incluindo aí redes sociais e inteligências artificiais, é uma das pautas mais urgentes do nosso tempo.


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    Vivemos cercados de objetos que aprimoram nosso corpo e realidade ou contornam deficiências: óculos de graus, vestimentas, maquiagem ou próteses. Com os smartphones, smartwatches, inteligências artificiais e óculos e dispositivos de realidade mista ou aumentada, caminhamos para um mundo cada vez mais ciborgue.


    Antecipando esse futuro, estão os biohackers, indivíduos que usam dos dados, da tecnologia e da ciência para manipular e aprimorar o corpo, com o uso de substâncias ou até mesmo o implante de chips para diversos fins.


    Apesar dos benefícios que o movimento pode trazer para o campo da saúde, quando contaminado pela lógica capitalista e liberal, esse movimento pode ser comparado à cultura coach, da busca incessante pela inovação, lucro e produtividade. Num contexto de dataficação individual, da digitalização da saúde (como abordado no episódio anterior) e da desinformação, não estaria o biohacking nos aproximando das distopias clássicas da ficção científica?


    Neste episódio, o pesquisador de teorias ciborgue e cibernéticas Gil Vicente Nagai Lourenção, que realiza seu pós-doutorado pela PUC São Paulo, responde a essa e outras dúvidas sobre o caminho sem volta da fusão entre corpo e tecnologia. 


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    O Sistema Único de Saúde, o SUS, é uma das grandes conquistas do Estado brasileiro e uma referência de saúde pública universal em todo o mundo. Contudo, conforme o Brasil foi se alinhando às políticas neoliberais a partir dos anos 1990, com as privatizações e a contratação de tecnologias estrangeiras em detrimento do desenvolvimento de soluções nacionais, o país passou a trilhar um caminho perigoso na área da saúde.


    Em um artigo intitulado “Saúde digital e o aprofundamento da dependência tecnológica”, os pesquisadores Joyce Souza e Fabio Maldonado contam que os dados do sistema de saúde brasileiro (ou seja, de toda a população e dos trabalhadores da área de saúde) estão sendo entregues a empresas como a Amazon, que os hospedam em servidores localizados fora do Brasil. Como se isso já não fosse problemático o suficiente de um ponto de vista da soberania, dados são hoje o novo petróleo e hoje alimentam Inteligências artificiais e a criação de novos produtos digitais, que podem eventualmente ser oferecidos para o próprio Estado brasileiro pelas empresas de tecnologia estrangeiras, aprofundando um ciclo de dependência e subalternidade do Brasil diante dos países imperialistas.


    No episódio de hoje, o Código do Caos se junto ao podcast Tecnopolítica para discutir o artigo da Joyce e do Fábio. E aqui vale uma apresentação. O Tecnopolítica é um podcast publicado desde 2018 e apresentado por ninguém mais ninguém menos que o Sérgio Amadeu, um sociólogo conhecido internacionalmente por sua luta pelo software livre e pela inclusão digital no Brasil. O Sérgio é professor da da Universidade Federal do ABC e coordena o programa de pós-graduação em ciências humanas e sociais da instituição.


    Reportagem: O brasileiro que desafiou a Microsoft e virou ícone internacional de ativistas


    Nesse collab do Código do Caos com o Tecnopolítica, eu e Sérgio entrevistamos Joyce Souza e Fábio Maldonado. A Joyce é jornalista e doutora em ciências sociais pela UFABC e pesquisadora do laboratório de tecnologias livres da mesma universidade. O Fábio é mestre pelo Prolam e pesquisador de dependência na América Latina.


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    Depois do e-mail, o buscador do Google talvez seja um dos recursos mais antigos e relevantes ainda usados na internet. Ao longo de seus mais de 25 anos de existência, o buscador do Google foi um divisor de águas na história da rede, não apenas estabelecendo os modelos de negócio da própria companhia mas também moldando o funcionamento comercial da internet, com sua estrutura gigantesca de publicidade online. Só que conforme a própria internet foi evoluindo com as redes sociais e, de uns tempos para cá, com as IAs gerativas, a ferramenta do Google parece estar piorando, mostrando em seus resultados uma quantidade cada vez maior de links patrocinados e páginas de conteúdos duvidosos e destacando informações nem sempre precisas ou corretas. Tanto é que, para as gerações mais novas, o TikTok já vem substituindo o Google como ferramenta de busca. Mas, o que é que está por trás dessas mudanças? O problema é mesmo o Google ou será que é a própria internet que vem se deteriorando no atual cenário de financeirização, desinformação e apropriação da produção humana pelas IAs?


    Links do Rodrigo Ghedin:

    Manual do Usuário

    https://mastodon.social/@manualdousuario


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    Se a região do Vale do Silício, na Califórnia, fosse um país, ele estaria entre alguns dos mais ricos do mundo, com um PIB tão alto quanto do Qatar ou de Luxemburgo. Lar dos maiores bilionários da indústria da tecnologia, o Vale do Silício é visto aos olhos do mundo como uma terra de empreendedores de sucesso e mentes brilhantes, de Steve Jobs a Elon Musk. Mas o que essa narrativa pronta não aborda são os antepassados sangrentos região, que só se desenvolveu por conta da abundância de contratos ostentosos com o governo e o departamento de defesa dos EUA.


    Há uma relação direta entre o desenvolvimento tecnológico dos EUA e o enriquecimento do Vale do Silício com suas políticas beligerantes, sua cultura armamentista e sua dependência econômica por conflitos militares. Essa história é contada pelo mestre em ciências sociais Arnon Manhães Ceolin em seu livro Vale do Silício a Contrapelo: Guerra, Estado e capital na formação histórica da utopia californiana, publicado pela editora Annablume. 


    Na sua obra, Arnon explora dois séculos de história do condado de Santa Clara, na Califórnia, da corrida pelo ouro que, juntamente com uma campanha de extermínio dos povos nativos, imbui a região de uma cultura empreendedora, aos desenvolvimentos tecnológicos impulsionados por guerras, da primeira guerra mundial à Guerra Fria. A leitura joga luz a esse passado sombrio e brutal do Vale do Silício, que contrasta não apenas com a positividade e de seus discursos mas com sua própria mentalidade neoliberal e empreendedora.


    Dissertação do Arnon

    Livro: Vale do Silício a Contrapelo

    E-mail do Arnon


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    No final de janeiro de 2024 a plataforma de transmissões Twitch anunciou para maio grandes mudanças na monetização de canais, algo que já havia acontecido durante a pandemia, o que novamente acende um alerta entre os streamers, uma vez que essas alterações podem significar redução da renda ou até mesmo aumento da jornada de trabalho.


    Por estar associada à atividades prazerosas e sociais, como os videogames, a categoria de streamers nem sempre é vista como trabalhadora, mas a verdade é que eles são sujeitos à uma série de problemas não apenas do trabalho digital mas da própria Twitch, que segue um modelo gamificado muito similar ao da Uber, submetendo seus usuários a rígidos mecanismos de controle.


    E tal como os criadores de conteúdo, essa categoria de trabalho, que explodiu durante a pandemia, carece de debates e mobilizações, até como forma de garantir melhores condições a essa classe trabalhadora.


    A advogada Jackeline Gameleira analisou as condições de trabalho dos streamers em seu programa de mestrado pela UFRJ. Em sua dissertação, ela entrevistou 17 streamers para entender suas perspectivas com relação à atividade e, a partir de uma abordagem do direito do trabalho, levantou problemas e soluções.


    Twitter da Jackeline Gameleira

    Site do Táxi Rio

    Grupo de Pesquisa Trab21


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    O termo gig economy (“economia de bicos”, em uma tradução literal) surgiu há alguns anos como forma de classificar o tipo de trabalho feito através de aplicativos e plataformas digitais. Contudo, no contexto dos países em desenvolvimento, como o Brasil, isso nada mais é do que uma nova forma de se referir a trabalho informal. E hoje, com a normalização do trabalho por plataforma – da criação de conteúdo em redes sociais aos aplicativos de entrega –, houve uma apropriação desse trabalho informal por parte das empresas de tecnologia. Esse movimento, que tende a se expandir conforme postos de trabalho são eliminados (como os dos jornalistas), sujeita trabalhadores a algoritmos abusivos e sem uma regulamentação, onde não há como garantir o mínimo para o trabalho digno.


    Neste episódio eu converso com Rafael Grohmann, coordenador do Laboratório de Pesquisa DigiLabour e do projeto Fairwork, vinculado à Universidade de Oxford. Professor na Universidade de Toronto, Rafael é também um dos principais pesquisadores brasileiros no campo do trabalho por plataforma.


    Twitter e Instagram do Rafael Grohmann


    Associações e sindicatos mencionados:

    Buzzfeed News Union

    Alphabet Workers Union

    Communications Workers of America Union (CWA) (cwa-union.org)

    Youtubers Union | United We Stand

    Creators Guild of America | Home

    Site Offline (thecreatorunion.com)

    Home - IWGB Game Workers

    Tech Workers Coalition

    Writers Guild of America West (wga.org)

    Means TV | Means TV


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    Em 2023 testemunhamos a ascensão e popularização das IAs generativas, que passaram a ser integradas ao cotidiano das pessoas, dentro e fora do ambiente profissional. 


    Esse movimento levantou uma série de questões éticas sobre o impacto das IAs no futuro do trabalho e da própria humanidade, bem como conflitos sobre direitos autorais e até processos judiciais. Um deles foi aberto pelo The New York Times, que acusa a OpenAI de roubar seus textos para treinar o ChatGPT, além de atribuir ao jornal informações falsas propagadas pela tecnologia. 


    A própria OpenAI se meteu numa confusão no final de 2023, com uma crise interna que resultou na demissão de seu CEO Sam Altman e sua readmissão menos de uma semana depois – e tudo isso por conta das diferentes visões conflitantes sobre o futuro do desenvolvimento da IA.


    Corta para 2024. IAs seguem sendo a maior aposta do mundo da tecnologia, com uma corrida pela liderança no setor entre as big techs, como o Google, Meta e própria Open IA, aliada à Microsoft, ultrapassou a Apple e se tornou a empresa mais valiosa do mundo, justamente por conta de seu investimento em IA. Mas qual é o estado dessa tecnologia no momento? Considerando as tensões que existe em torno da incorporação cada vez maior das IAs na sociedade, como a tecnologia poderá influenciar nossas vidas em 2024? E quanto os problemas éticos em torno dela?


    Pra falar sobre esse tema, eu converso neste episódio com o jornalista Bruno Romani, editor do Link, o caderno de tecnologia do Estadão. O Bruno cobre tecnologia há mais de 15 anos e já passou pela Folha, Ed. Abril, Vice e UOL. E como não poderia deixar de ser, IAs tem sido um dos principais focos de seu trabalho há algum tempo.


    Twitter do Bruno Romani

    Link, caderno de tecnologia do Estadão


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    Metaverso é um papo que morreu em 2023, mas isso não quer dizer que espaços de convivência virtuais tenham deixado de existir, muito pelo contrário. A gente pode não usar mais o termo metaverso, mas esses ambientes digitais continuam em alta, como Roblox e Fortnite, que foram alguns dos jogos mais jogados no PC em 2023. Quando combinados com óculos de realidade virtual, como o Meta Quest 3, lançado recentemente, ou o Apple Vision Pro, previsto pra fevereiro de 2024, essas experiências digitais se potencializam, gerando novas possibilidades de criação e socialização mas também de assédio. E abusos que acontecem dentro de ambientes imersivos podem ser ainda mais traumáticos para as vítimas e mais difíceis de serem solucionados pelas plataformas.


    É isso que aponta a designer de experiência Tatyane Macedo, que fez uma pesquisa sobre assédio em ambientes virtuais que será publicada entre janeiro e fevereiro de 2024. A Tatyane estudou diferentes casos reais de abusos contra mulheres e crianças que aconteceram dentro de jogos ou espaços de realidade virtual e como as plataformas foram negligentes em amparar as vítimas ou punir os agressores.


    Linkedin da Tatyane Macedo


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    No dia 9 de dezembro de 2023 o jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem que eu produzi no decorrer de novembro, a partir de uma entrevista que eu fiz com o desenvolvedor e atual curador do Museu do Computador, Breno Valli. A história que ele me contou mexeu muito comigo, não só porque ela, de uma forma ou outra, se conecta aos temas que eu tenho investigado desde 2020, com meu podcast Primeiro Contato, mas pela trajetória de 25 anos de dificuldades que pai e filho trilharam movidos por uma vontade de preservar a nossa história com a tecnologia. Nessa entrevista, que durou mais de 2h, o Breno me conta toda a história do Museu do Computador e como, durante o período da pandemia, eles perderam quase todo seu acervo por falta de apoio.


    Este episódio é uma versão editada desta entrevista, que complementa a reportagem publicada na Folha de São Paulo.


    Para apoiar o Museu do Computador com doações ou dinheiro, acesse:

    museudocomputador.org.br/


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