Episoder
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Passaram mil dias desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia. Joe Biden, enquanto arrumava as gavetas da Sala Oval, deu um presente aos ucranianos: já podem utilizar o armamento americano que lhes foi oferecido contra alvos em território russo. Putin decidiu alterar de imediato a filosofia militar russa: agora até um ataque com armamento convencional poderá desencadear uma resposta nuclear. Os mais pessimistas já vêm o fim do mundo ao virar da esquina. * Seria irónico o mundo acabar já, sem ser dada oportunidade a José Sócrates de se defender em tribunal daquilo que ele considera ser “uma guerra de extermínio”. Passaram dez anos sobre a detenção do antigo primeiro-ministro. * Também se assinala esta semana um recorde: nunca, como este ano, foram apresentadas tantas propostas de alteração a um orçamento. Foram mais de duas mil. Só o Chega avançou com mais de seiscentas. Vai ser votar até às tantas ao longo da próxima semana. E há tudo: de grandes medidas a minudências de pequena política.
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Na estante do Governo Sombra, há desta vez ideias antigas para problemas presentes e futuros, no ensaio “História para Amanhã”, de Roman Krznaric; há uma investigação de vários autores, coordenada por Pedro Aires Oliveira e João Vieira Borges sobre “as guerras de descolonização”, sob o título “Crepúsculo do Império”; a poesia chega com a assinatura de um prosador, Valério Romão, no livro “Mais uma Desilusão”; e há poesia também, naturalmente, na biografia de Du Fu investigada por Michael Wood em “O Maior Poeta Chinês”.
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Esta semana, na estante do Governo Sombra, os ensaios sobre Israel e a Palestina (com o título ‘O Coração Pensante’) de um escritor israelita (David Grossman) alarmado com a deriva extremista, de parte a parte; a monumental biografia de ‘Napoleão, o Grande’, por Andrew Roberts; a ‘Poesia Quase Toda’, de Zbigniew Herbert, o poeta polaco de quem o Nobel não se lembrou a tempo; e um estudo sobre a ascensão e queda da elite mercantil cristã-nova, pelo historiador Francisco Bethencourt, sob o título ‘Estranhos na Sua Terra’.
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Quantas horas têm os dias da ministra da saúde? Será que Ana Paula Martins está a ver-se obrigada a horas extraordinárias para ajudar a sua secretária de estado a distinguir “anemia” de “amnésia”? Do que já não restam dúvida é que o governo da Madeira tem os dias contados. Será Albuquerque defenestrado pela moção de censura ou, ainda antes, na votação do orçamento para 2025? Nos Estados Unidos, as escolhas de Trump tornam claro que, para a nova administração, o conceito de “conflito de interesses” é letra morta.
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Qual a pergunta certa: ‘como é que Trump ganhou’ ou ‘como é que os democratas perderam’? Vamos ter pela frente quatro anos para encontrar a resposta. Numa coisa a eleição do futuro inquilino da Casa Branca foi diferente da anterior: os vencidos aceitaram a derrota sem ranger de dentes nem violência. Na realidade mais comezinha da política nacional, uma deliberação autárquica controversa desencadeou uma sarrafusca interna entre socialistas. Com o regresso a uma animosidade evidentemente, mas não nomeada, entre o anterior e o actual secretários-gerais do PS. Enquanto isso, há duas ministras na corda-bamba. Começa a pairar o fantasma da remodelação governamental, o que já obrigou o primeiro-ministro, em ambos os casos, a vir defendê-las em público. Em Espanha, nem uma tragédia com mais de duzentos mortos fez esquecer a guerrilha política entre o governo socialista e o poder autonómico que reúne a direita tradicional e a extrema-direita.
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Na estante do Governo Sombra, temos esta semana um ensaio de dois professores de Harvard sobre as disfunções da política americana: “A Tirania da Minoria”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt; uma reflexão, com enquadramento histórico, em que Fareed Zakaria expõe argumentos sobre o momento presente, a que chama “Era de Revoluções”; há ainda um diálogo sobre as crenças religiosas de um dos grandes nomes do cinema contemporâneo: “Conversas sobre a Fé”, entre Martin Scorsese e António Spadaro; e de um especialista italiano na cultura clássica, Dino Baldi, “Mortes Fabulosas dos Antigos”.
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Na estante do Governo Sombra, esta semana, encontramos um livro decisivo para a chegada do surrealismo a Portugal, que nunca tinha tido tradução portuguesa: "História do Surrealismo", de Maurício Nadeau, as memórias póstumas de um mártir russo: "Patriota", de Alexei Navalny; o romance mais recente de Rachel Cusk: "Desfile", e o catálogo da exposição “Unidos Venceremos! Protesto, Greves e Sindicatos no Marcelismo (1968-1974)”.
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Não é com 'tasers’ que nos protegemos da realidade, evidentemente. Claro que as armas de electro-choques, que faltam à polícia, também não impedirão frases grotescas de dirigentes políticos com assento parlamentar. Declarações que merecem censura generalizada, embora daí a considerá-las crime, como pretende quem se queixa delas em tribunal, vá um passo perigoso que, paradoxalmente, pode vir a conceder uma vitória ao infractor. Para o desconcerto do mundo ser completo, só falta consumar-se o cenário de turbulência política que se adivinha a partir da próxima terça-feira, depois da palavra-chave da semana ter sido “lixo”.
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Sabemos como começam fenómenos destes, não podemos saber como acabam. Um homem morreu numa intervenção da polícia. Ainda antes de qualquer inquérito concluído, a PSP emitiu um comunicado justificando a acção policial. O homem estaria armado com uma faca e o agente da autoridade agiu em legítima defesa perante uma arma branca. Versões posteriores contradizem esta narrativa. A polícia, além de matar, mentiu? Na periferia de Lisboa a dúvida foi pretexto para quatro noites de violência e vandalismo. Foram queimados vários autocarros e há um motorista da Carris internado em estado grave. Perante este quadro que aconselharia prudência e responsabilidade, o líder parlamentar do terceiro maior partido na Assembleia não se coíbe de dizer que “se calhar, se (os polícias) disparassem mais a matar o país estava mais na ordem”. O mundo está perigoso. Perante isto o episódio dos insultos do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros ao Chefe de Estado-Maior da Força Aérea parece uma brincadeira. Mas não é. Como não foi a brincar que o primeiro-ministro desfraldou a bandeira política do combate à disciplina de educação para a cidadania sob uma ovação do congresso do PSD. Quem parece ter sido apanhado na curva foi o ministro da Educação, admitindo que este não é o problema mais importante na área que tutela. São as guerras culturais a que temos direito.
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Esta semana, na estante do Governo Sombra, encontramos uma memória pessoal da ditadura de Enver Hohxa, no livro “Livre”, de Lea Ypi; uma “História de Arte”, assinada por Katy Heller, diferente de todas as outras: “Sem Homens”; as entrevistas de Maria João Avillez a grandes protagonistas políticos portugueses em “Eu Estive Lá”; e um clássico da literatura latina: “Remédios Contra o Amor”, de Ovídio.
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E daqui em diante como viveremos nós sem a novela do orçamento? Ainda há a das gémeas, é certo. Temos agora a do julgamento do caso BES (mas com 18 arguidos, estando em causa 300 crimes e arroladas 700 testemunhas, são tantas as personagens que rapidamente perderemos o fio à meada). E há a corrida à Casa Branca, que promete emoção (e angústia) até ao fim. Enquanto isso, com o orçamento virtualmente aprovado, em breve se verá como evolui a relação de Pedro Nuno Santos com os comentadores socialistas (desalinhados) no seu “pedestal”.
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Na estante desta semana, vamos do excesso de informação a um compêndio de trica política, passando por um belo livro infantil e por uma reflexão sobre os 50 anos da Revolução. Neste caso, António Barreto reúne um conjunto de textos e intervenções no volume ‘Abril’. A respeito do mesmo período, o meio século de democracia, Liliana Valente e Filipe Santos Costa investigaram e reuniram episódios saborosos de pequena política (com um protagonista em destaque: Marcelo Rebelo de Sousa). O ensaísta francês Bruno Patino faz, num ensaio significativamente intitulado ‘Submersos’, um diagnóstico preocupado da sobrecarga de estímulos e informação com que estamos confrontados na sociedade contemporânea. Por fim, para não nos acusarem de sermos (apenas) cínicos, fica a recomendação de um belo livro infantil com mais de meio século e pela primeira vez traduzido e editado em Portugal: ‘Harold e o Lápis Púrpura’, de Crockett Johnson.
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O folhetim do orçamento ainda está para durar. O PS continua sem dizer se viabiliza a proposta do Governo. O Chega já disse tudo e o seu contrário. A palavra “irrevogável” talvez precise, aliás, de um novo verbete nos dicionários. Enquanto isso, a despesa pública corrente está a crescer a um ritmo que já não se via há mais de trinta anos. Em simultâneo com uma promessa de redução das receitas fiscais. Já é Natal e ninguém nos tinha avisado. Para a RTP é que não será: vai deixar de ter publicidade. Com menos 22 milhões por ano, televisão e rádio públicas um dia destes terão de começar a cortar nos auriculares dos repórteres. E depois quem é lhes sopra as perguntas ofegantes de que Montenegro não gosta?
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Na estante do Governo Sombra, arrumamos esta semana o romance “Origami”, de José Gardeazabal, um novo ensaio de Anne Applebaum intitulado “Autocracia, Inc.”, o mais recente volume de poesia do poeta Jorge Sousa Braga, “Flor Cadáver”, e uma história da revolução haitiana, escrita em 1939 e agora redescoberta, com o título “Os Jacobinos Negros”.
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E se de repente fizéssemos este programa com inteligência? (Inteligência artificial, bem entendido, que não estamos aqui para o auto-elogio.) Fomos a um encontro de geeks tecnológicos - que passaram dois dias a discutir as questões legadas à inteligência artificial - e convidámos a Joana. Houve quem lhe chamasse Joana Artificial Dias. Perante os especialista do IDC Directions não se saiu nada mal.
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Quem quer casar com a carochinha orçamental? Pedro Nuno Santos faz finca-pé nas suas linhas vermelhas. Luís Montenegro acusa o líder do PS de radicalismo e inflexibilidade. André Ventura garante que não será “o banana da sala”. Mas sempre acrescenta que tudo fará para evitar uma crise política. Talvez seja desta que o adjectivo “irrevogável” ganha, em definitivo, uma nova acepção no dicionário. Enquanto isso, vacinada (atenção à chalaça) contra políticos profissionais, a maioria dos inquiridos numa sondagem sobre presidenciais está disposta a eleger uma farda. Siga a Marinha. Mais apostado em consolidar o lugar de chefe de turma do que a candidatura a chefe do governo, Pedro Nuno Santos foi visitar o país real afectado pelos incêndios - mas só em autarquias socialistas. Em Lisboa, o presidente da Câmara mandou a polícia municipal começar a fazer detenções. Depois logo se vê o que dizem os pareceres jurídicos sobre o assunto. Ah, xerife!
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Esta semana, na estante do Governo Sombra, ou lá como se chama isto agora, há contos, contos, contos. E física divertida. “Toda a Física Divertida”, de Carlos Fiolhais. Os novos contos de Teresa Veiga em “Vermelho Delicado”. Os novos contos de Luísa Costa Gomes em “Visitar Amigos”. E crónicas autobiográficas de Maria Filomena Mónica reunidas no volume “Sonata de Inverno”.
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Uma tragédia não se discute. Certo. Mas se não se importam vamos ter de debater a resposta política à calamidade. O primeiro-ministro, fazendo voz grossa, acusou os “interesses que sobrevoam” aquilo que aconteceu nesta semana que pôs o país de luto. Importa-se de esclarecer a que interesse se refere? A ministra da administração interna, em parte incerta durante quatro dias, regressou com os fogos a entrarem na fase de rescaldo para ler uma longa “fita do tempo” e para elogiar o nosso “rico povo”; o que terá sido pior: a emenda ou o soneto? Mas nesta “roda em que apodrecemos” (O’Neill) há outras questões que reaparecem a cada momento: voltou o caso judicial na Madeira, voltou a controvérsia em torno dos abusos sexuais na Igreja, voltou a ameaça da queda do Governo e da dissolução do Parlamento. Ó Portugal, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato!
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Na semana em que a floresta ardeu, a estante-sombra registou a chegada de um livro que faz o elogio dos passeios na Natureza: “Devaneios do Caminhante Solitário”, de Jean-Jacques Rousseau; também folheámos, evocando um dos temas centrais da política norte-americana em tempo de eleições, o último livro do recentemente desaparecido Paul Auster: “Banho de Sangue Americano”; entretivemo-nos com mangá nos três volumes de “Sunny”, de Taiyo Matsumoto; e evocámos duas exposições evocativas dos 50 anos do 25 de Abril, a partir dos respectivos catálogos: uma do cartoonista António, a outra em torno da figura de Amílcar Cabral: “Cabral Ka Mori”.
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Não há cão nem gato que não tenha comentado o debate presidencial norte-americano. Ao nível do meme Trump perdeu, aliás, ganhou. Foi dele o protagonismo total. Que efeito terá isso no resultado eleitoral, é a pergunta para um milhão de memes. Enquanto na América se discute o futuro de todos nós, entre nós faz-se a dança da discussão orçamental. Com muita acrobacia política e mais retórica do que matemática. Também está em equação o perfil de quem vai tomar conta do Ministério Público e a restrição dos telemóveis nas escolas.
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- Se mer